sexta-feira, 7 de março de 2008

Dia de entrevista

Acordei hoje ás 06:00 da manhã com um sono que mal consigo levantar de tão tonto. Preparo a camisa preta. "Saco, hoje eu vou ter que ir de preto, não tenho mais nenhuma camisa mais clara", disse. Visto a calça que compôe o terno. Beijo minha esposa e saio para a rua. O calor já estava me sufocando. Chego na empresa onde vou fazer a entrevista e percebo que o relógio estava adiantado. "Coisa de dona Márcia", replico.
Aproveito e leio um pouco o livro do Franklin Martins. Ele é muito instrutivo. Principalmente na parte da linguagem não verbal que gosto muito. franklin afirma que temos "ler" os corpos das pessoas, pois pode dar algum furo. Entro no elevador. Fico esperando pelo menos vinte minutos. "Será que faz parte do teste?", me indago. Chega uma figura. Meu concorrente na vaga. Seu nome era André. sorriso largo, rosto queimado por um acidente doméstico com óleo quente há dois dias.
Camisa preta, que nem a minha, calça Jeans, sapatos comprados em uma Elmo da vida. Gente boa. Logo foi puxando conversa. Disse que estava fazendo o segundo período de Administração. "Esse é o candidato perfeito para a vaga", pensei. Entre as dores que reclamava falou da namorada. Dizia que estudam na mesma sala e são castíssimos. Tentei acreditar. Falava que meu nome era engraçado. Coitado. Ele ainda não tinha visto nada. Sentamos e a "psicóloga", se é que a deveria chamar assim, aplicou-nos o teste. Ela era muito bonita. Cabelo meio louro, meio sorriso, olhos azuis e um olhar convidativo, explicava a tarefa como se fôssemos crianças de primeira série.
O teste era engraçado. traçar "pausinhos" na mesma proporção e ordem. Foram só trinta minutos de teste e já estava com fome. Tenho a mania de sair sem tomar café. Despistei a fome pensando em um saboroso pão com manteiga. Na saída, tinha que responder á algumas perguntas básicas, como por exemplo a religião que professo e quanto tempo me dedico a ela. "Que coisa", pensei. Fui sincero. Penso que fui mais sincero com ela que com minha mãe. Deu-me o endereço onde faria outra entrevista.
Era mais longe que pensava. Ceasa, é mole. Rua da Bahia com Carijós. Ponto do ônibus. pergunto ao motorista da linha 4402 se passava em frente ao centro de distribuição do Magazine Luiza. "É o BR 040", diz. Percebo que vem outro em seguida. Faço a mesma pergunta. estava inseguro. O motorista falou que passava onde queria. Entro e o cata jegue estava cheio. As pessoas pareciam vindas do interior. Roupas sujas e muita gente idosa. Eu com aquele calor e de roupa preta.
A viagem foi longa. Já fazia mais de cinquenta minutos dentro daquela caixa e já não estava mais aguentando. O cobrador me dá um sinal de que posso descer. Para a minha surpresa os dois entederam errado. Falei que queria ir até a Smart Logística. Entenderam Mart Minas. "Estou muito abençoado hoje", disse espantando o mal humor. Pergunto ao porteiro da empresa por onde podia passar e me disse que ia andar muito.
E andei. O engraçado é que a rua onde estava passando era de chão batido. Dez moleques andavam comigo. Tocavam todas as campainhas das casas que viam e ainda mexiam com todos os cães da rua. Lembrei-me da minha infância. Eu também fazia a mesma coisa. Cheguei na empresa. Mais espera. Essa foi pequena. Tive que colocar todos os meus dados na folha. "Há tanto tempo que não preencho uma ficha", pensei. Uma moça muito gentil me ofereceu água.
Cabelos castanhos, com uma boca super sensual. O corpo nem se fala. Esbocei meu tradicional sorriso. "Deu química", pensei.
Já na entrevista dentro da sala, o diretor de RH, branco de olhos azuis, parecia do sul, e o outro baixinho, mais mineiro. Todos estavam sérios. Como de costume, as falas estavam todas decoradas. Benefícios, salário etc. O diretor de RH me surpreendeu em um gesto. Percebi que estava verificando a reação do meu corpo a cada palavra proferida.

No fim esticou o pescoço e olhou as minhas pernas. Imediatamente esbocei o sorriso e olhei nos olhos dele. Sabia que ele queria ver meu interesse pela vaga. Estava "lendo" minhas reações. "Coincidência", pensei. Li sobre isto hoje. Realmente as pessoas querem saber mais sobre nossas reações do que aquilo que falamos. "Importante. Muito Importante", observo. Saio da entrevista e vou para a faculdade. Meu grande amigo e colega Guará me liga. "Tô chegando", diz. Sigo para os laboratórios. Ligo o micro e vou ler as notícias do dia e primeira manchete: "Polícia não pode entrar batendo", disse Lula na apresentação do Pac na favela da Rocinha no Rio.
Pólio