terça-feira, 3 de junho de 2008

Gilse Cosenza emociona platéia em depoimento sobre o movimento de 1968

Em um momento do evento ela se definiu como mãe, lutadora, realizada e humilde. Foi fascinante. Simplesmente fascinante. O depoimento de Gilse Cosenza, a senhora pequena, magra, frágil, com um brilho e esperança contagiante, “utópica”, de 64 anos, que participou ativamente nos movimentos estudantis em 68, deixou a platéia do auditório da Faculdade Estácio de Sá atônita.
“Foi o período de chumbo”, dizia ela, durante o debate da semana de 1968 “O sonho acabou?” na faculdade. Vários regimes militares espalhados por toda a América Latina, Guerra Fria, Primavera de Praga, instituição do AI-5. Saldo: mais de 250 mil presos políticos, 20 mil torturados e mais de 400 assassinatos nas décadas de 60 e 70 pelo governo militar brasileiro. “Era um período de terror”, analisa Gilse.
Segundo ela, o mundo do 2º pós-guerra, principalmente na Europa, estava sem perspectiva, vivia um tempo de angústia e autodestruição. “Em 68 no Brasil, o questionamento era político e social, queríamos mudar o mundo”, dizia.
A luta de Gilse começou cedo. Estudante secundária no Instituto de Educação em Belo Horizonte, ela se mostrava como uma feroz e autêntica defensora na luta pela liberdade. Realmente viver sob uma ditadura militar não era “prêmio” para ninguém. No dia do golpe de 64, pegou alguns colegas e foi para a praça da liberdade fazer palanque. Os policiais bateram em todo mundo.
Uma das grandes mudanças propostas e muito combatida na época era o papel da mulher na sociedade. Consenza não queria ser somente uma boa esposa e mãe. Queria ser mais. Seu pai dizia que universidade não era “coisa de mulher”. Entretanto, Gilse era indiferente a isso. Passou no vestibular da Puc na época, e fugiu de casa é claro.
Gilse Consenza conta que foi expulsa do colégio por colocar Jeans – era proibido. Entre as histórias, a mais difícil de contar foi sua prisão em 69. Um capítulo á parte de todo o tipo de tortura. Com a filha recém nascida, foi estuprada e sofreu torturas físicas durante nove meses. Preço alto por defender o companheiro e os amigos militantes. Mudou várias vezes de nome.
Em 1998, após ficar 30 anos fora de Belo Horizonte retorna para os movimentos populares como a criação do Centro Popular da Mulher e como representante da União Brasileira das mulheres.
No último momento de sua apresentação, as pessoas se levantaram batendo palmas. Via-se lágrimas nos olhos de alguns.
O estudante do 1º período de Publicidade e Propaganda Felipe Mendes Ferreira, de 22 anos se emocionou. “Gilse me ajudou a ter mais esperança, ver outras possibilidades e não se contentar com o que está aí”. Erlinda Santos, 28 anos, estudante do 7º período de Jornalismo enfatiza: “Incrível, ela é um exemplo de superação. Passou por todo o tipo de tortura e não perdeu a garra de lutar por aquilo que acredita”.

Pólio Ferreira.
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